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Paixão

Adoro os silêncios que nas horas dormentas me perfumam a pele, nas memórias que os sorrisos trazem de ti. São curtos os espaços de tempo em que te evaporas entre os dedos, na doçura apressada do reencontro. A estrada a dois caminhada. O bater cadenciado de um novo sopro ao coração. A alma em prata lavrada, numa esperança renovada de uma renascida condição. Em nós o tempo adormece no afago impreciso das horas. No olhar que se prende na teia de um fácil sorriso. Talvez o tempo seja o certo, e o lugar concreto, que dá essência à paixão. O toque debruado na pele, num desejo que a medo, nasceu do dia para a noite. No luar que desperta a ousadia de um beijo imprevisto, que nos faz ganhar asas ao patamar desconcreto da imaginação. Talvez sejamos os avessos mais direitos, que em contrários, reescrevemos a mesma direcção. Talvez sejamos as dobras do cansaço, que entre abraços, se resignam aos trampolins de um profano sagrado em oscilações entre a alma e o coração.

Vulgares omissões

Percorro o caminho de um asfalto novo. Não levo comigo os sonhos antigos, nem os pesadelos da memória. Foi tudo um lago imenso que se afundou em mim. Nas penas que se tornaram serenas, sem que se abrissem em asas ao cair do fim. O esquecimento é uma arma letal ao sentimento. São devaneios já perdidos de uma fé que se ausenta ao equívoco apressado do que escrevi de ti. Não quero imagens do rosto, nem o decrépito sol-posto da pele desfeita ao caminho. Já nada resta da junção apressada e sombria. A pele que nos unia, gentia, de mentiras engenhosa e arrastada. Foi-se a sonoridade do brilho, ficou apenas o tanger vazio de um eco mudo sem sonoridades. A vida não guarda as maldades. Nem a memória vive de falsas histórias. Tudo se consumou à poeira das memórias, de histórias que ninguém viveu. O nosso tempo foi a lacuna de um negro céu amaldiçoado pela lua. Não há deserto sem brandura, nem vento árido sem a docilidade fresca da brisa que ri em golpes de uma boca tresloucada, a face rude de tud

Poesia de sombras

Tranca-me o silêncio. A tua voz já não emerge da profundeza das águas. Foste o corpo nu, toldado a medo, que se dissipou no segredo, das pregas da minha alma. Já nada me surpreende ou me nega a calma. A tenacidade abrigou-se ao curto afecto negado à fragilidade que o desejo inflama. Partiu-se o repositório das lembranças surdas que guardei de ti. Não resta a poesia, nem a sombra. Apenas a vulgaridade longa,a de tudo que se desfez, de ti em mim. Não julgues a despedida a uma realidade terminada. Não há volta de passos apregoada, nem sorrisos que à falsa fé se voltem a incrustar em mim. Somos opostos decadentes. A fluidez de um rio sem correntes que se perdeu antes de se fazer mar. Somos estradas paralelas, não há cruzamentos em artérias estranhas, nem mais becos onde me escondas. Sou a descoberta apetecida, aquela que se ama para toda a vida, porque a genuinidade esquecida, anda às voltas sobre o peito. E serão longas as noites, que o pensamento ao sentimento dá açoites, pela minha ausê

Dilúvios

Refeita

Já não sinto a minha pele rasgar ao toque do teu corpo no meu. Já só resta a sombra da dúvida que em certezas se tornou sombria luz. A chuva que se espraia pelo rosto já não sabe a saudade mas a mudança apetecida. E em cada esperança renascida acorda o passo de um rasgo, em novo dia. Cruzamos estradas que o passado engoliu ao vómito apressado de tudo o que a memória apagou ao sofrimento. Resta apenas as palavras escritas em sentimento, ao canto do vento, as lágrimas vertidas. O desejo de que partas para outros rumos, outras paragens,  que de mim soem perdidas. Tatuei em mim um novo rumo, a amnésia de um sono profundo onde não existes tu. Soa a vazio o silêncio que em mim deixaste, mensagem bordada em pano cru. As cicatrizes são a prova de que te sobrevivi ao tempo e ao espaço em que tudo se resumia a ti. Hoje deixei de ser lascada pedra, sem traço, vinquei as raízes na terra, sou feita de marfim e aço. A dureza da mentira criou em mim sustento, ao golpe assaz lamacento, a verdade que a

Não sou de ninguém

Não sou de ninguém. Sou de deformados sóis e de incertos horizontes. A lágrima fácil de riso doce. A lua cravada de estrelas e a peste negra que cospe fogo. Sou o caminho que percorro sozinha, em todos os passos que errei. Vivendo nos empurrões da vida, encontrada e tanta vez perdida, nos devaneios que só eu sei. Dispo de mim a pele, entrego o corpo, o peso de um desejo morto à alma libertina. Sou mais de asas do que de correntes. Prefiro as incongruências presentes do que passados que me fizeram ferida. Não quero laços que ameaçam ser nós. Quero o vento agreste no cabelo solto. A prometida viagem de lês a lês, o ardiloso tumulto. Sou mais de silêncios do que de ruídos, sou de solidões e tempos perdidos. Sou o receptáculo das desilusões, umas foram meras perdições, outras distrações prepositadas, de corações, que sendo ocos já não guardam nada. Sou o abrigo tardio desta caminhada, sou o biblot que se coloca no Hall de entrada para ser admirado, longe do toque. Parti a porcelana resta o

Promessas vãs de amores tão sós

Se eu fizer de ti mais do que um segredo, escreve no meu corpo, a lápis de carvão, todas as promessas que falharam ao alcance da tua mão. Não serei mais abrigo ou refúgio para a rendição de pecados que não são meus. Não serei mais tempo, nem silêncio deposto ao alcance do teu corpo em cavernosa hibernação. Fui a ilusão poética entre os dedos teus. E tu a mentira catastrófica de um vulto que em poeira cósmica se transmutou em adeus.

Prisões em mim

Não há fins que caíbam no silêncio. Quando os erros tem mais peso, que as batidas deste oco coração. Perdeu-se o traço em caprichoso desejo. A cobardia de um apressado beijo. A maresia de um toque que apenas despiu em si o luar. Já não regressa a inocência de um olhar que a medo se pousava, na traquinice de um trajecto par a par. Findou-se o riso de um descomprometido tempo em que tudo tinha lugar. E não consigo regressar sem culpa, ao início do caminho. Há passos que nos desviam, quase sem rumo. Talvez a demora que em mim se ajusta seja o desassossego de me ausentar do passo que julguei seguro. Onde só havia pontes e nenhum muro, apenas a teimosia que me levava a fechar, num lugar distante de tudo, inclusivé do teu olhar. Se a vida nos deu asas porque teimamos em nos agrilhoar.

Brisa do coração

Revoltado tempo, entre a magia de madrigais que nunca morrem, o canto embevecido de um pranto que me atormenta. Porque sangra o chão se a minha alma não está sedenta? Não sofrerá o âmago da saudade repetida? O lado convexo de um espelho que já não reflete a vida. Ou a fúria dos rios que entre juncos e madressilvas furam a encosta. A melodia de um vento que assobia na pele à vontade imposta. Talvez o silêncio que em teus lábios finge o sentimento. Talvez a dor, de um passado que acabou ainda presente. A dádiva de um afecto que caiu ao chão, à gravidade adicionada pelo tempo à mão, que se fez ausente. Talvez o caminho seja em puro esquecimento, o raiar de um futuro sonolento. Que nunca nos falte o horizonte dos sonhos, quando a estrada se faz com a alma e sem pés no chão, na ausência do ruído do mundo, a brisa do coração.

Liberdade

Há tão pouco de nós sobre as imensidões da lua. Tão pouco de nós entre a impressão da minha pele na tua. São breves os afectos impensados que na pele pousados, desvaneceram. Foram breves os minutos de um tempo adivinhado, num suor apressado, que nas gotas de vontade sob a pele sucumbiram. E que resta de nós se o tempo nos cala? Que resta da trajectória da bala, se o corpo jaz em pedaços no chão. Abranda o sentimento e ressuscita a razão. Denuncia-se o carinho e retrai-se o desejo. Sela-se à boca o último beijo, e dá-se voz à liberdade.

O preço da mentira

São cidades de areia que se edificam sobre a tua pele, ao toque do vento suave que te arrepia em vertigens de um sonho demasiado frágil. Não há consentimento para a brusquidão dos afectos. Nem para erros planos de desenhar a vida com base em mentira. Com o passar dos anos a farsa cai. Esgota-se a paciência de manter as máscaras que só por aparência e interesse se vestiram. Não há falso amor que dure a eternidade. Nem que nos faça ficar quando a vontade nos chama para outras camas. Ama-se um amor despersonalizado porque é o mais fácil de manter camuflado. Mas no fim o corpo jaz cansado, há falta do afecto que por mão errada foi dado. Ao preço demasiado caro pelos anos que não sentimos vivo o sorriso nos lábios, mas somente a dormência da alma. O penhoramento do coração, que de sombras se embrenha. Valerá a pena o fingimento de um amor que em nada ama. Valerá a pena abraçar um corpo que em nada nos veste, nem no prazer fugaz de um desejo rápido despido de sentimento. A verdade é que o en

Restauro

São rendilhados de uma noite povoada de distâncias. A vida suspensa entre pregas de um silêncio que nos despe à rebeldia do tempo. São saudades debroadas na pele, ao prenúncio de uma carícia consentida. Semeia em mim a vontade de um abraço que renasce em memórias repetidas. De ter por perto o olhar que em encanto me incendeia e me alivia. As penas do caminho, as pedras da alma, as lágrimas de uma voz perdida. Renúncio aos passados que me quebram, que me ferem, são lembranças de uma eterna despedida. Hoje juntos os cacos. Restauro do coração os pedaços, e calço os novos sapatos rumo a uma nova vida.

Recomeço

É bom ter por perto alguém que em jeito nos cura o peito, sem qualquer cobrança apenas dedicação. É bom perceber que o nosso fosso termina onde começa o abraço. O cuidado de quem nos agarra pelo braço e nos impede de cair. Alguém que não nos questiona o passado, entende que o nosso tempo foi errado, mas só nós precisamos de forças para abrir mão e deixar ir. Alguém que acredita que a felicidade pode ser ao nosso lado, num sorriso partilhado, quando a amizade tem toda a chance de florir. Deixei de amar as flores e os corvos. As flores envenenam os espaços, onde se acolhem e os Corvos debicam-nos os sentimentos a sangue frio. Prefiro a tenacidade de um amor tranquilo. Aquele que acompanha e presencia, cada passo. E nos faz entender que a solidão acompanhada terminou. Estou em mudanças e reconstruções de vida, vou agarrar a mão que se estende diante da minha. O ombro amigo que insiste em me deixar voar sem perder o chão. O esquecimento é inevitável, para sobreviver quando nos tentam sugar

Morreste-me

Morreste-me e não fui capaz de verter uma única lágrima. Talvez porque a traição mata em nós qualquer réstia de sentimento. Foi um homicídio negligente e premeditado. Foste a desilusão gigante que me fez pegar na arma e assassinar o corvo que trazia no peito em embalos de um amor que de cúmplice nada teve. Não te guardo as penas, nem o rosto, ou o nome. Quero o vazio do tempo que desperdicei contigo nas mentiras que a tua voz apregoava. Como é justo o karma face à maldade das pessoas. Aqui se paga cada gota de sangue inocente que derramamos nos outros. Aqui se paga o peso da consciência do que perdemos. E espero que a memória dos momentos comigo te injecte e queime em saudade como o inferno em que me fizeste arder.

Desvontade

Vestimos o silêncio na pele que nos rasgam do corpo. Na carícia que qual peso morto nos faz sangrar ao sentimento. Recoso o coração ao tempo e deixo a náusea passear-se na alma, à vertigem que acalma a mente. Não há regresso ao passado. Tudo o que não foi vivido, foi porque o tempo foi da desvontade aliado, e não quis partilhar o momento. Tudo se desmorona ao toque gélido da mão que nos ilude na cegueira de uma entrega sem retorno. A terra não engole o mar, porque há nele a revolta do desconforto. O triunfo de uma vontade que se impõe, em tempestades. Quando por más vontades nos agrilhoam a um destino que não pretendem viver. Existe um fosso entre nós. Uma selva incontrolável, suicida. A derrocada que entre nós tornou a vida, não partilhada, mas repartida. E se à rebeldia do sentimento que trago no peito, terei que ser desfeito, que por hoje o seja, mas que tenha de vez a coragem da despedida. Quem ama não esquece, persiste, não abandona, insiste, para que a caminhada seja em passos ig

Vértice do esquecimento

Cheguei ao vértice da nossa desistência. Não somos reais, somos a ilusão em pura decadência. Os antípodas de um sentimento já em si descrente. A marginalidade de um poema decadente. O corpo retorce-se na ausência que do toque se evade. A alma cospe em cristais as lágrimas que os olhos não albergam mais e se derramam. A calma que a tua alma transmite ausentou-se de mim desde algum tempo, resta,a inquietação, a dúvida, o descontentamento. Será a vida um jogo de vitrais. O prometer que se volta e não regressar mais? Cansei-me de expectativas, de mendigar amor, entre as horas de madrugadas perdidas e a resposta pronta da solidão que me acompanha. A estrada fria que o pé estranha, quando a vontade é partir. Mas este amor corroi-me as estranhas, em nefasta dor de vertigens plenas. Não deixo de te amar, levo na pele tatuado o teu toque, o sabor do beijo, mas o amor não sobrevive de incertezas ou lembranças, nem de promessas ou esperanças, no amor ou se investe ou se esquece. E eu tenho sido a

Partida

Um dia quando não houver mais rostos a deambular sobre a minha pele entregarei o corpo à morte. Não me é possível viver no desalinho depressivo desta cruel dependência do mundo...Não é possivel evitar que a pele se cale ao afrontamento dos sentidos. Não é possivel apagar de mim o toque descartável da tua mão. Fomos um fogo fátuo que se desprendeu por entre os dedos, na vertigem da tua certeza e dos meus m edos, no descontrolo efémero de uma vã loucura. Nao acredito na s alvação da morte e não pretendo continuar a minha fuga. Nada é mais cruel que rejeitar sentir pela incerteza do sentimento. E nada é mais lo uco que viver uma fuga passageira entre o oráculo do tempo e os p ingos de uma felicidade irrisória que sorvo dos teus lábios....já q uase sei de cor o corpo onde me aninho nas noites que semeio no meu le ito. Mas nada é eterno e mesmo que seja terna a desenvoltura poética do teu abraço que nos funde num só eu...Não há silêncio que não me af aste de ti aos poucos, no conform

Escolhas...

Chega uma hora em que temos de mudar...Não porque já não cabemos na pele que vestimos mas porque a vida nos faz perceber que há coisas que deixam de fazer sentido. E que está na hora de dizer um basta! Cansei-me de engolir sapos e arcar com culpas que não foram minhas. Cansei-me de me lembrar de quem sempre me esqueceu. Cansei-me de ser julgada com total desconhecimento de causa...E hoje continuo o que sempre fui... Verdadeira. Mas já não me veste a agilidade com que  me prontificava quando o mundo alheio caia. Deixei de estender a mão a quem me morde os braços. Deixei de estar onde por obrigação exigiam a minha presença. Deixei de me importar...De querer saber...A frontalidade mantém-se mas hoje reveste-se de silêncio, porque chega uma altura em que é mais importante estar em paz do que ter razão...este é definitivamente o meu mundo, aquele onde hoje exerço total abandono de tudo pelo meu bem-estar. Veste-me hoje um egoismo que nunca tive... Dei tudo de mim, sempre de alma e coração,

Despedida

Despeço-me dos comuns mortais da melodia inaudível à fragância de ti, ao prazer mundano exacerbado em metamorfoses de prata sobre a faca na minha pele, descrevo o adeus o traço curvilineo da garganta, onde se cruzam irónicas a paixão e a vida, sepulta-me no teu peito, num adormecimento profundo feito leito, e aos poucos peço-te que te vás, sem lágrimas, esquecendo-te de mim......

Vazio

Sou a transparência de uma alma que já não tem corpo onde habitar. O espaço sugou-a para uma dimensão intermédia, onde não há tempo nem lugar. Demoraste tanto tempo a socorrer-me, que morri. Morri nos picos entrelaçados do tempo, onde em raros momentos, a carência te lembrava de mim.

Sem tempo....

Sinto-me baralhada como a areia pelo vento Tudo o que me rodeia tem sempre um tempo Menos tempo para mim. Sou a transparência mais perfeita no teu peito. Aquela que só se trás por perto em breves memórias, Que a ausência acende em ti. Não pretendo mendigar o tempo, atenção, ou alento, A vida por vezes leva o sentimento, Impedindo-nos de ficar. E eu serei sempre brisa, que o vento sopra e o mar atiça, Sempre à tona de àgua como a cortiça Parto para onde a alma me levar....

Porque...

Porque caiem os dias Na tremenda hipocrisia Das palavras. Se já não há lugar Onde a alma ficar E o resto são mágoas. Porque me amarra este porto Se a nova pele sobre o corpo É o prenúncio da liberdade Porque me despeço eu Se o sorriso ainda é teu E a lágrima é saudade...

In Memoriam...

Há cicatrizes que nunca deixam de doer... Minha doce Avó, faz anos que o teu silêncio inundou de vez a minha vida. Anos que não regressam por muito que a saudade bata à porta do meu peito em alheias soalhadas. Respinga em mim ainda a última gota do orvalho que te viu partir naquele fim de tarde, de um sábado dorido e gravado a ferros no meu peito. O enjoo de uma baforada de gente, meia zonza, proliferando palavras de desgaste para este meu cérebro adormecido para a dura realidade que me imprimia em segredo a imagem da tua ausência. Quantas vezes desejei dizer-te tudo o que tinha amordaçado no meu peito desde que partiste. A dor de uma saudade imposta pela solidão de ti. Hoje consigo finalmente dar voz a este longo silêncio. Dizer-te tudo o que não tive tempo de te dizer. Eras a alegria dos campos de Outono, onde as folhas enfeitavam coloridas o laço do teu avental. Eras o pilar perfeito onde edificava o meu ser quando o vento das intempéries da vida depositava nos meus olhos as lágrim

Amor a prestações entre segredos e raras madrugadas

Amo-te a prestações, entre o segredo que só partilhamos os dois entre o brilho quente da lua em raras madrugadas. Mas o amor, por vezes, é uma submersão adversa que nos empurra contra a corrente até nos faltar o ar. Não há sossego no desassossego premente de cada golfada, sugada à pressa, de uma réstia de fé num misto de impaciência. Mas será o amor elevado à extrema potência, um percalço inacabado e de conflitos internos, em constante sobrevivência? Ou será apenas a vivência que em reflexos de uma magia densa compensamos no outro? O tempo é um carrasco apressado e indigente. O tempo de um tempo, sem tempo, que a tempo, não nos diz nada. O tempo que nos desacerta, nos ponteiros apressados, e nos faz passar de raspão pela vida dos outros. O tempo soberano e intransigente que nos comanda, num passo que de incerto erra a estrada. Alguma vez o tempo me voltará a consentir cruzar meus passos contigo? O mesmo céu e o mesmo chão, o fogo da terra sob o bafo frio da extinta solidão? Não, na p

Despedida

Somos dois estranhos. A cumplicidade que parecia ter anos, ruiu. É preciso dar tempo a quem já não tem tempo para partilhar connosco. É a face fria da desistência a roçar-nos o rosto. E o peso dos pés que teimosamente se enterram no chão, ganhando raízes, numa terra que deixou de ser fértil. Já não há espaço no meu peito para tanta saudade. Nem para adormecer o desejo, que o tempo fez vontade. Já não há palavras empoleiradas no olhar, nem o ímpeto de perpetuar o abraço que ficou por dar. Não quero apenas o espaço ocupado no leito. O suor do amor, que se faz desfeito, entre a chuva que do rosto, embaça o peito, em mais uma despedida. Quero o companheirismo aceso, que um dia ficou desperto, e hoje jaz no silêncio de nós. Sei que o sentimento me prende, e que a memória me atraiçoa, a tantas lembranças em que o sorriso se abriu contigo. Mas não me posso  agarrar a promessas que serei incapaz de cumprir. A rua ficou deserta e sei de ti pela conversa que vozes alheias apregoam de ti. Não há

Reflexos

Sou só... E os meus monólogos Ecoam nas paredes da tua alma Como se me mareassem os sentidos à loucura Quando me embriago de ti. Trago a alma encurralada entre ilusões, Uma diz-me que não ame nada A outra que me desprenda de paixões. E fico entre o silêncio que me devora E a fuga paralela de uma mórbida hora O enlace enamorado em galáxias de mil sóis. A vida é um devaneio entre sombras Onde nos misturamos os dois.

Persistência

São memórias de uma longa caminhada. Duas almas de fogo que se cruzam de novo pelo espaço sideral. O reconhecimento feito pelo corpo em devaneio feromonal. E a redescoberta do traço que sobre a pele indelével volta a ser visível ao arrepio que o desejo Injecta em cadência normal. Perdido e louco no corpo um do outro em gestação experimental. O tempo é precioso, horas em que repouso minha alma em teu coração. E tudo é a picardia das pregas do tempo na vida que nos afasta lentamente. Mas queima mais o sentimento que a distância, e volta ao abraço a esperança, que em nós ateia o fogo.

Dois em um....

Atravessa os umbrais da minha alma e recolhe em estrelas o dia. Há sombras desenhadas na pele à luz entrecortada da rua, pelas frestas da janela que nos invade, na tenacidade que arde na selva nua. Hoje arrebatas-me o peito na fusão perfeita que de dois nos fazem um. A cadência do ritmo do coração sentido nas arritmias da pele. O querer ir, entre compassos apressados, sem desaguar em lugar nenhum. A loucura de te amar, a alma aberta de par em par, o coração a girar, entre pontas de um lugar comum.

Sussurra-me...

Sussurra-me entre silêncios que mão são meus Entre vultos que povoam minhas parcas fantasias Entre braços que se moldam aos cansaços Na ausência dos abraços Com que enfeitas os meus dias. Sussurra-me em devaneios de medos teus Entre ecos que em mim se agitam Entre a negação e a derrota A vontade de quem se esgota Nos murmúrios que na pele gravitam... Cortei amarras e apaguei os trilhos Deixei no peito crescer uma asa Do passado apenas guardo o caminho Que me leva de regresso a casa.

À tela da minha alma, iluminura do meu mais secreto amor

Vejo-te passar por entre os respingos dessa chuva fria acordando o corpo quente. Nada em mim desagua tão facilmente como o desejo inacabado de ti, nesta mente que te sonha em suspiros de um prazer alarve e mundano. Inspiras-me o desassossego de uma loucura premente entre a tua pele e a minha; numa languidez exacerbada a um toque que me queima sem me tocar, a língua viperina que me apimenta a saliva a cada beijo. Somos a instância selvagem que nos sacia em cada golfada de nós; a loucura e a exaustão, saliva, suor e degustação. Desejo. A fruição desajeitada de um amor que se derrete num calor escondido em vertigens no meu peito. Não posso dar-me ao luxo de escancarar ao vento a tórrida eloquência de te amar sob um chão de estrelas banhadas pela lua. A maciez tentadora da pele na pele. O afago desmedido que me enlouquece num esquecimento de mim. És tão real quanto hipotético. E eu quero-te nos desejos sequiosos da terra árida face à chuva. Quero-te em todos os impossíveis irrisórios que

Valsa à lua...

São os silêncios que na pele chamam por ti. A impressão dos dedos ao despir da boca, em beijos, delineada e louca, ao suspiro que entre nós se aviva. É o desejo que em notas soltas se  fez melodia. A saudade nua. A cumplicidade que se diluiu a medo, no manto sobre os ombros do segredo. Somos a valsa, que o corpo enlaça, sob a envergonhada lua.

Amor

Desgasta-me a razão ao sentimento. A vontade de partir enquanto o tempo não me parte o coração. E esta raiva que me corre nas veias de uma saudade já gasta. Tanto que te amo num passado tão presente. Tantas palavras que tatuei em felicidade no vento. Mas nunca fui corrente, deixei-me em espera a debater nas águas. E agora o chão é vazio. Só resta a dúvida que me debica a alma por tanto que o teu nome chama. Adormeço nesta fria cama, entre o suor dos corpos que em lágrimas se transmuta. Não tenho mais forças para esta luta. É injusta a ironia e a trama do destino. Se o corpo resta só porquê dar-lhe a companhia das ausências. As horas incertas que na pele sedentas, se transpunham em nós. Não sei quando em mim se encerrará tua presença. Vivo entre as penas que se abrem no peito, entre o luar e a dor. Só peço que o tempo, ou a fúria do vento, me deixe esquecer-te, Amor.

Promessas....

Levas-me a escrever histórias com palavras enubladas pelo tempo. Um misto de júbilo e tormento do meu corpo em pedaços como areia exposta ao vento. E se eu quiser o abraço prometido, em pedaços quebrados de vidro, à solidão que me deixa louca, de sorver de um só trago os beijos da tua boca?

Rasgos de ti

Os teus olhos perdidos Vagueando em mim Delineando-me o corpo Em majestoso cetim. O toque indelével da tua mão O desejo imperfeito da perfeição Prender-te o segredo Que geme apressado Entre uma gota de sangue E outra de orvalho. Sentir-te distante e quase cruel Vincando os dedos Na minha pele.

Êxtases

O amor é a insensatez urbana  Nas asas de um anjo  A boca ardendo ao silêncio  Da língua que se contorcionista ao desejo. O corpo sangrento, esguio e quase cru A pele salgada em devaneio  As mãos cravadas no seio E a volúpia como fénix Renasce das cinzas em êxtase Envolvendo o corpo nu. 

Desapego

Sei de cor as dores que me preenchem, os afectos que na pele trago embutidos, os teus silêncios, os teus gestos, os olhares perdidos sinceros, os toques pelos dedos repetidos....e hoje já nada disso importa, calou-se a esperança já perdida, o real de uma utopia adormecida, só o rio sabe as lágrimas que de mim ainda transporta.

Melodia

Trago pirilampos incrustados nos poros da pele, à ausência do teu brilho sobre os parapeitos da minha alma. E nunca as sombras foram tão negras como agora, no peso do silêncio que a tua boca devora, na fragilidade do meu peito, o sentimento a toque incerto, melodia que não me acalma....

Sintonia

Há cumplicidades em defeito Que nos extravasam do peito Em perfeitas configurações. O toque da saliva na língua A cadência da batida Num alfabeto de imperfeições. Ondas hertzianas Que fazem vibrar as escamas Mudam na pele as estações. São puras arritmias Que no embalo dos dias Sintonizam os nossos corações.

Livres...

Livres, de rumos antigos, Fazem-se aos caminhos Que o sonho teceu.... Abandonam ninhos Frágeis peregrinos Em tão vasto céu... Descobrem-se destinos Em mágicos pergaminhos Em louca saudade.... E as asas no meu peito Vão abrindo em jeito O rumo à liberdade....

Frágeis liberdades

Ronda-me um sol, como um farol na alma Ao reflexo, de um sentimento convexo, que me agasalha... Sou a sombra tatuada na tela nua O toque do pincel na tinta crua Entre golfadas de um sonho que se atrasa. Sou correnteza de uma beleza gasta... Que se agita pelos bosques destas cidades Alma sem tempo em frágeis liberdades....

Sufragio

É tão pesada a escuridão sob os meus olhos Pululam lágrimas que não ousei chorar Arde-me no peito como cicuta Esta revolta impossível de calar Escuta Senhor este meu pranto A tua dor crucificada em meu coração De joelhos sob o teu manto Revivo altivo a tua Paixão. Olho tua fronte cravada de espinhos Teu corpo já morto entre ásperos linhos E o uivo da morte infâme, derrotada. Sinto o Teu sangue escorrer-me pelos dedos Assumo a culpa de todos os meus erros Quero a Tua dor, em meu corpo Senhor, sufragada.

Ausência

Queima a tua ausência entre as dobras dos lençóis Entre a pele e o desejo A boca que beijo a beijo Sorvemos os dois.... Decalque de saudade no peito A respiraçao impressa a teu jeito Ora acelera, ora acalma Entre corpos se inflama Amor, Eterna chama Brisa de poesia na alma....

Nós dois...

Desenhas-me a face nos contornos do desejo. Caiem noites entre a nossa pele, na vontade alada de um saudoso beijo. Somos chão em brasa de uma doce combustão...A língua em arrepio sobre a pele suave...A alma síncopada ao coração, no corpo que arde ... Somos mar sôfrego rasgado pelo vento, que sobre os telhados do mundo, roubou as asas ao tempo..

Saudade

A saudade é um pássaro pousado no peito, em frágil inquietação... É o tempo incerto entre a memória do toque e os fragmentos da tua mão... São as noites decompostas, Entre cumplicidades tão nossas Como quem polvilha de estrelas a escuridão....

Memórias

Despem-se em mim as memórias De um vazio acostumado de histórias De um gesto simples, envergonhado No contraste do sorriso, o triste fado. E vivo imersa, entre a vontade dispersa Chão e lama, a pronúncia altiva que me chama Na palavra que por fim se finda.... Sou de incógnita natureza, sonho e certeza De um madrugar profundo E paro o mundo! E nessas lacunas de tempo Sou mar e vento Que na tua pele se aninha...

Caprichos

Cosi a alma a cristais Fui de enfeite e pouco mais Em caprichos teus... Tatuei noites na pele Fiz do corpo passerele Devaneios meus... Entre estrelas nasce o pó Tu multidão e eu tão só Na corda bamba. Foste ode infernal Porta estandarte em carnaval Sem escola de samba.

Perda

Trago a tua dor emoldurada no meu rosto Num caixilho oco, disforme É a agonia que me deixa louca Faz-me perder de mim o teu breve nome Prendem-me grampos na pele Em tom gritante de correntes Tu eras asas do meu cárcere Sonho alado entre torrentes Leva as saudades, deixa a lembrança O colo de mãe, a feliz infância E arranca de mim a tua ausência Deixa-me inerte na berma da estrada De mim já não resta nada Apenas fluxos da minha demência...

Devaneios

Eram devaneios de uma vida suspensa entre os teus dedos... O murmúrio fácil de um desejo que se despe na ternura  impressa sobre a pele a derreter...A saliva borbulhando entre bocas... A perfeição escarlate de tantas noites loucas...dois corpos embebidos num afago desmedido de prazer....

Ilustrações

Serena, de ilustrações amenas, o retoque inolvidável de uma paz plena, que em silêncios me enraiza entre sentimentos, na decadência poética de uma parca fantasia....Talvez entre noites nasça o dia em que repousarei eterna nas quietudes da tua alma...