Despedida

Somos dois estranhos. A cumplicidade que parecia ter anos, ruiu. É preciso dar tempo a quem já não tem tempo para partilhar connosco. É a face fria da desistência a roçar-nos o rosto. E o peso dos pés que teimosamente se enterram no chão, ganhando raízes, numa terra que deixou de ser fértil. Já não há espaço no meu peito para tanta saudade. Nem para adormecer o desejo, que o tempo fez vontade. Já não há palavras empoleiradas no olhar, nem o ímpeto de perpetuar o abraço que ficou por dar. Não quero apenas o espaço ocupado no leito. O suor do amor, que se faz desfeito, entre a chuva que do rosto, embaça o peito, em mais uma despedida. Quero o companheirismo aceso, que um dia ficou desperto, e hoje jaz no silêncio de nós. Sei que o sentimento me prende, e que a memória me atraiçoa, a tantas lembranças em que o sorriso se abriu contigo. Mas não me posso  agarrar a promessas que serei incapaz de cumprir. A rua ficou deserta e sei de ti pela conversa que vozes alheias apregoam de ti. Não há espaço para mim no teu cansaço. Há a urgência de um tempo demasiado apertado. Que sem ritmo ou compasso, cria no tempo prioridades que não me alcançam e me dão um fim. Vou no embalo do vento, deixo-te a tempo, de não me quebrar por dentro, ao perpetuar o sentimento, em que contigo, em curto espaço de tempo, fui feliz.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Ao meu Anjo...

Ausências de mim...