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A mostrar mensagens de agosto, 2017

Refeita

Já não sinto a minha pele rasgar ao toque do teu corpo no meu. Já só resta a sombra da dúvida que em certezas se tornou sombria luz. A chuva que se espraia pelo rosto já não sabe a saudade mas a mudança apetecida. E em cada esperança renascida acorda o passo de um rasgo, em novo dia. Cruzamos estradas que o passado engoliu ao vómito apressado de tudo o que a memória apagou ao sofrimento. Resta apenas as palavras escritas em sentimento, ao canto do vento, as lágrimas vertidas. O desejo de que partas para outros rumos, outras paragens,  que de mim soem perdidas. Tatuei em mim um novo rumo, a amnésia de um sono profundo onde não existes tu. Soa a vazio o silêncio que em mim deixaste, mensagem bordada em pano cru. As cicatrizes são a prova de que te sobrevivi ao tempo e ao espaço em que tudo se resumia a ti. Hoje deixei de ser lascada pedra, sem traço, vinquei as raízes na terra, sou feita de marfim e aço. A dureza da mentira criou em mim sustento, ao golpe assaz lamacento, a verdade que a

Não sou de ninguém

Não sou de ninguém. Sou de deformados sóis e de incertos horizontes. A lágrima fácil de riso doce. A lua cravada de estrelas e a peste negra que cospe fogo. Sou o caminho que percorro sozinha, em todos os passos que errei. Vivendo nos empurrões da vida, encontrada e tanta vez perdida, nos devaneios que só eu sei. Dispo de mim a pele, entrego o corpo, o peso de um desejo morto à alma libertina. Sou mais de asas do que de correntes. Prefiro as incongruências presentes do que passados que me fizeram ferida. Não quero laços que ameaçam ser nós. Quero o vento agreste no cabelo solto. A prometida viagem de lês a lês, o ardiloso tumulto. Sou mais de silêncios do que de ruídos, sou de solidões e tempos perdidos. Sou o receptáculo das desilusões, umas foram meras perdições, outras distrações prepositadas, de corações, que sendo ocos já não guardam nada. Sou o abrigo tardio desta caminhada, sou o biblot que se coloca no Hall de entrada para ser admirado, longe do toque. Parti a porcelana resta o

Promessas vãs de amores tão sós

Se eu fizer de ti mais do que um segredo, escreve no meu corpo, a lápis de carvão, todas as promessas que falharam ao alcance da tua mão. Não serei mais abrigo ou refúgio para a rendição de pecados que não são meus. Não serei mais tempo, nem silêncio deposto ao alcance do teu corpo em cavernosa hibernação. Fui a ilusão poética entre os dedos teus. E tu a mentira catastrófica de um vulto que em poeira cósmica se transmutou em adeus.

Prisões em mim

Não há fins que caíbam no silêncio. Quando os erros tem mais peso, que as batidas deste oco coração. Perdeu-se o traço em caprichoso desejo. A cobardia de um apressado beijo. A maresia de um toque que apenas despiu em si o luar. Já não regressa a inocência de um olhar que a medo se pousava, na traquinice de um trajecto par a par. Findou-se o riso de um descomprometido tempo em que tudo tinha lugar. E não consigo regressar sem culpa, ao início do caminho. Há passos que nos desviam, quase sem rumo. Talvez a demora que em mim se ajusta seja o desassossego de me ausentar do passo que julguei seguro. Onde só havia pontes e nenhum muro, apenas a teimosia que me levava a fechar, num lugar distante de tudo, inclusivé do teu olhar. Se a vida nos deu asas porque teimamos em nos agrilhoar.

Brisa do coração

Revoltado tempo, entre a magia de madrigais que nunca morrem, o canto embevecido de um pranto que me atormenta. Porque sangra o chão se a minha alma não está sedenta? Não sofrerá o âmago da saudade repetida? O lado convexo de um espelho que já não reflete a vida. Ou a fúria dos rios que entre juncos e madressilvas furam a encosta. A melodia de um vento que assobia na pele à vontade imposta. Talvez o silêncio que em teus lábios finge o sentimento. Talvez a dor, de um passado que acabou ainda presente. A dádiva de um afecto que caiu ao chão, à gravidade adicionada pelo tempo à mão, que se fez ausente. Talvez o caminho seja em puro esquecimento, o raiar de um futuro sonolento. Que nunca nos falte o horizonte dos sonhos, quando a estrada se faz com a alma e sem pés no chão, na ausência do ruído do mundo, a brisa do coração.

Liberdade

Há tão pouco de nós sobre as imensidões da lua. Tão pouco de nós entre a impressão da minha pele na tua. São breves os afectos impensados que na pele pousados, desvaneceram. Foram breves os minutos de um tempo adivinhado, num suor apressado, que nas gotas de vontade sob a pele sucumbiram. E que resta de nós se o tempo nos cala? Que resta da trajectória da bala, se o corpo jaz em pedaços no chão. Abranda o sentimento e ressuscita a razão. Denuncia-se o carinho e retrai-se o desejo. Sela-se à boca o último beijo, e dá-se voz à liberdade.

O preço da mentira

São cidades de areia que se edificam sobre a tua pele, ao toque do vento suave que te arrepia em vertigens de um sonho demasiado frágil. Não há consentimento para a brusquidão dos afectos. Nem para erros planos de desenhar a vida com base em mentira. Com o passar dos anos a farsa cai. Esgota-se a paciência de manter as máscaras que só por aparência e interesse se vestiram. Não há falso amor que dure a eternidade. Nem que nos faça ficar quando a vontade nos chama para outras camas. Ama-se um amor despersonalizado porque é o mais fácil de manter camuflado. Mas no fim o corpo jaz cansado, há falta do afecto que por mão errada foi dado. Ao preço demasiado caro pelos anos que não sentimos vivo o sorriso nos lábios, mas somente a dormência da alma. O penhoramento do coração, que de sombras se embrenha. Valerá a pena o fingimento de um amor que em nada ama. Valerá a pena abraçar um corpo que em nada nos veste, nem no prazer fugaz de um desejo rápido despido de sentimento. A verdade é que o en

Restauro

São rendilhados de uma noite povoada de distâncias. A vida suspensa entre pregas de um silêncio que nos despe à rebeldia do tempo. São saudades debroadas na pele, ao prenúncio de uma carícia consentida. Semeia em mim a vontade de um abraço que renasce em memórias repetidas. De ter por perto o olhar que em encanto me incendeia e me alivia. As penas do caminho, as pedras da alma, as lágrimas de uma voz perdida. Renúncio aos passados que me quebram, que me ferem, são lembranças de uma eterna despedida. Hoje juntos os cacos. Restauro do coração os pedaços, e calço os novos sapatos rumo a uma nova vida.

Recomeço

É bom ter por perto alguém que em jeito nos cura o peito, sem qualquer cobrança apenas dedicação. É bom perceber que o nosso fosso termina onde começa o abraço. O cuidado de quem nos agarra pelo braço e nos impede de cair. Alguém que não nos questiona o passado, entende que o nosso tempo foi errado, mas só nós precisamos de forças para abrir mão e deixar ir. Alguém que acredita que a felicidade pode ser ao nosso lado, num sorriso partilhado, quando a amizade tem toda a chance de florir. Deixei de amar as flores e os corvos. As flores envenenam os espaços, onde se acolhem e os Corvos debicam-nos os sentimentos a sangue frio. Prefiro a tenacidade de um amor tranquilo. Aquele que acompanha e presencia, cada passo. E nos faz entender que a solidão acompanhada terminou. Estou em mudanças e reconstruções de vida, vou agarrar a mão que se estende diante da minha. O ombro amigo que insiste em me deixar voar sem perder o chão. O esquecimento é inevitável, para sobreviver quando nos tentam sugar