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A mostrar mensagens de 2008

Por-do-Sol

põe-se o sol sobre o meu corpo na palidez perfeita do contraste um barco à deriva sem porto nas memórias que selaste. Mata-me a sede aos lábios À secura da minha alma Ao secretismo dos sábios neste mar de pura calma. Afogo os silêncios neste mar na vontade de ficar inundada de prazer. o beijo que promete abraçar o corpo de um ser vulgar pronto a amanhecer.

Galeão da Saudade

Navegarei nas ondas das ilusões nas orlas de espuma da saudade por entre coros de aluviões derramando gotas de liberdade... Navegarei sobre o deserto nas pirâmides do desencanto tão longe e tão perto das alegrias do meu pranto... navegarei nas lágrimas da despedida num porto sem partida no presente ilusório da vontade navegarei no teu peito num amor quase perfeito perdido no galeão da saudade.

indecisão

Há silêncios que me rondam as lembranças palhaços encantados em sonhos de crianças. Há afectos que me roçam o olhar na ténue barreira entre o ir e o ficar. há vontades que me amarram à saudade a um pedaço de tempo chamado eternidade. há olhares que me despem o cansaço lambendo gota a gota as lágrimas que caiem no regaço. há noites em que me perco na loucura acorrentar em ti a alma enquanto o corpo flutua...

Lembrança

lembra-te de mim quando a noite cair quando o silêncio gracejar entre as estrelas quando o riso se aninhar no teu olhar e a lua distante amanhecer o dia. lembra-te de mim quando a noite for eterna quando a memória for uma lenda e o teu corpo amanhecer sozinho entre a saudade sabendo a poesia. lembra-te de mim se forem ermos os caminhos se navegares desconhecidos rios se desaguar em ti a funda dor lembra-te de mim, até ao fim incauto amor...

ODEIO

odeio o teu silêncio a tua ausência em mim o vento que bate incerto no teu corpo de cetim. odeio o teu abandono o desejo que me encerra um pedaço do meu corpo em sete palmos de terra. odeio o teu desespero o dia em que te espero a noite que não alcanço odeio o teu sorriso o teu olhar, paraíso nesta campa onde descanso.

DOR

choro espinhos de uma rosa que nunca chegou a florir esquadros perdidos do tempo num gesto quase obsceno do teu rosto a partir. choro a saudade que escapa a vida que se desfia desejo fatal que me mata numa essência de prata noite tecendo o dia. choro a ausência profana o silêncio que há-de vir a vontade que me chama teu corpo na minha cama ausente do meu sentir.

AMA-ME...

ama-me óh! morte assassina ama-me no cruel retorno no silêncio que derrama a lágrima de um cego rei sem trono. ama-me sem compromisso ama-me sem sentimento engole a raiva mesquinha pedaços agrestes de vento. erva daninha que cresce no campo fértil da vida como perfume silvestre no fogo que amanhece chama que brota altiva no peito de um ser celeste.

SEGREDO

tenho uma porta aberta em mim no peito findo de uma dor ausente tenho o decrépito desejo acabado no verso inconstante transparente. minha sombra é vil clandestina pecado incauto na descoberta minha essência casta assassina minha morte jaz incerta. e no teu olhar silêncio a boca infâme, sequiosa do meu secreto segredo numa face de fogo esplendorosa.

Sombra

Estorvam-m nos dedos as palavras o gesto inqualificável do abandono o pórtico deserto que se abre numa face despida de sono. Agarro a chama incauta e serena O vulto esquecido pela solidão o póstumo vínculo enlouquecido pelos devaneios da tua mão. A voz adormecida da demência o silêncio deposto sem razão na face de uma gentil utopia Como um gesto em cadência gravado a ferros num coração de uma sombra vulgar de sombria.

FIM

Não tenho sorrisos Para vender á tua alma Apenas solidão presa em mim. Não tenho confidentes Nem mares de calma Apenas gotas de água Envoltas em marfim Não tenho alegrias Apenas cansaços Nem rosas, nem lírios Apenas espinhos Cravados nos braços. Não tenho vida Muito menos norte Tenho a despedida No rosto da morte.

Dependência

Doem-me no corpo as correntes Os ferros da distância sobre a pele O peso desta cruz sobre os ombros Retalhando o corpo a cinzel. Nos pés levo os grilhões da dependência Nos pulsos as algemas do sistema Na voz o grito preso sem sussurro E na mente ferve o ópio da descrença. Tenho medo até da própria sombra Dos voos andarilhos das gaivotas Dos velhos aninhando-se nas esquinas Deste mundo que gira em contra-voltas.