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A mostrar mensagens de setembro, 2020

Degustação

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A cada nova madrugada  Sabe-me a boca ao teu sorriso.  O beijo picante indeciso,  O travo doce sobre a pele salgada.  Pincelas-me em desejo o coração  A fragrância baunilhada dos teus olhos  Que me confitam os sonhos Em merengue tentação...

Carícias nuas...

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  Roubei-te aos devaneios de uma sombra Que me mordia a pele,  Entre o silêncio e a loucura, o toque que me imprimia em desassossego a alma.... Guardei-te no brilho de repetidas luas, No sol de praias de carícias nuas, A promessa de duas línguas que se devoram....

Laços

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 Deixei de correr atrás das sombras  De um já gasto caminho  Temos que aceitar as escolhas  Que nos impõe o destino...  Talvez os passos que se afastam  Sejam de libertação e desapego De mostrar que no avanço da idade  Se desafia a liberdade, face ao medo...  Talvez não seja a escolha mais justa O enlace mais sensato e mais forte, Pois há laços que a pele borda na alma Face à eternidade que vence a própria morte...

Olhar...

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 Abarcas-me a alma Em todos os desassossegos Que ao sonho injectam os medos  De uma paz que não me acalma.... E há na tua pele uma azáfama de palavras Que se moldam ao silêncio de uma calada dor Transportas no peito em poesia e amor  A revolta das Trindades em cruas lágrimas...

Descartados

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  Carrego um livro no meu rosto Cada ruga é uma página amassada Por um velho remorso... Trago nos olhos a preto e branco a rodagem um velho filme Descolorido pelo desencanto... Só há um nome porque somos chamados, Nós, os velhos, os sem-abrigo,  Os rejeitados... Somos a sociedade do descarte, Aqueles que o mundo ignora, Fazendo de nós um mundo à parte.... Cheguei a esta vida sem nada,  fui apenas pedra na calçada,  Fiz da ilusão a minha verdade... Já nada faz em mim sentido Sou do vento o mais fiel amigo, A alma que chama à morte, liberdade.

Perdeu

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 Embala-me o silêncio  De tantos caminhos sós Os passos de um segredo  Que nos emudece a voz.... Frágeis nós que entre os dedos  Nos agarram firme a mão Abafam-nos os medos  No bombear do coração... E perdeu, O que ao mundo não se deu Entre mares buscou os céus... E perdeu,  Na escuridão das ondas  O remoer de tantas sombras  No seu mais secreto adeus... (Foto: caminhos da noite de João Lebre)

Desventura

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 Já não me apraz escrever São vazios sincopados de uma história que já não é tua... São gritos infames de uma vã e intrínseca loucura.... Que me masca o sentimento de uma febre já sem cura... E ninguém ouve, ninguém quer saber. A lágrima rasga o rosto num devaneio poético de amargura,  São silêncios que a derrota no peito emoldura. E o esquecimento que foi saudade e hoje é só desventura....

Insónia

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 Serena entre a vigília e o sono  A decrépita insónia assassina Turva-me a memória sem réstia de sonho Numa madrugada já de si sombria... Desenham-se incertezas nas paredes do quarto Tela de sombras chinesas envoltas em maresia  E os meus olhos repousam na dor da cruel abstinência  De um descanso que se esfuma em poesia...

Último canto

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 Desfiz o olhar em mágoas choradas À mercê de um último adeus Nas dobras de bocas fechadas Selando sagradas pedaços de céus... Calei o silêncio por entre as pedras Nos vultos já gastos de uma saudade E nesta morte quase envolta em terra Deixei florir em mim a liberdade.

Indecisão

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