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A mostrar mensagens de maio, 2009

Carta a uma ilusão de amor

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Podia dizer-te tantas coisas. Inventar desejos, subterfúgios, mentiras pérfidas ou silêncios poéticos. Podia dizer-te coisas hediondas revestidas de segundos sentidos ou despidas de conteúdo por não ter sequer o que expressar. Podia dizer-te que te odeio como se não houvesse outro sentimento iludido em toda a face da terra…. Mas sei que não posso fazê-lo. Não posso mentir a verdade que grita mais forte que a dor. Esta dor que me mata nos redundantes falsetes da vida. Sinto a tua ausência em mim. O teu cheiro entranhado na minha pele. O teu respirar no meu ouvido numa cadência que me deixava louca. Por te querer, para te querer….e por não te ter. Esta visão ainda é muito turva das omnipresenças que me deambulavam na mente face a ti. As vontades sórdidas de fugir no teu abraço. Ou as lágrimas caladas pela solidão da noite. Podias ser tudo: água, fogo, chuva, rio. Ilusão real, torre de babel. E eu deixei por ti meu mundo vazio, alheio ás sombras empedernidas das pessoas, que deambulam ao

Amor procura-se--

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Procuro-te por entre as gotas ácidas de uma chuva de rostos humanos, à mercê da própria dor, da própria incredulidade de ti. Rastejas por entre os poros desta pele que se arrepia em contratempos em metamorfoses esporádicas de mais um dia mau. Procuro-te por entre os becos das avenidas, nas pedras incipientes da calçada fria rafada por pés mundanos. És apenas o pensamento esquecido e empoeirado pendurado nas arestas da minha alma. Quero-te numa fome desenfreada e animal, que me leva a agir por instintos grotescos polvilhados pelo teu doce sabor fantasiado em meu espírito. Onde te escondes dos olhares que te ignoram, que não se conjuram a pensar na tua fugaz existência? És vulgar mas no entanto procuro-te… procuro-te…. Se não for nas horas mortas da minha alma, nos lábios agitados de silêncio, nos corpos balançando sensualmente no vento das atrocidades infantis deste meu querer….responde-me voz alheia e imperceptível… onde te escondes? No beijo roubado que vai de boca em boca, sabendo a

Carta à minha Avó Glória

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Acredito no desespero. Na força que me sufoca e me amarra os pulsos na impossibilidade de agir. Acredito no desespero desde a tua partida. Desde que me deixaste nesta ausência-presença tão imprópria de ti. Acredito no sofrimento. Acredito na solidão de um olhar enclausurado no teu rosto. Acredito na dependência. No golpe de misericórdia que a foice da morte impõe quando nos finda o prazo. Acredito na dor. A dor mesquinha e transparente. A dor visível que nos obriga a arrastar o corpo e encarar a vida sem ti. Ainda continua vazio o teu espaço. Como podem dizer que ninguém é insubstituível? Que artimanhas macabras inventam as pessoas para nos levar a acreditar em mentiras. Quem disse que a dor fica mais ténue, quando compreendida? Quem disse que as frases politicamente correctas que me gritavam aos ouvidos no dia do teu derradeiro adeus, me tranquilizavam? Só queria ficar sozinha, a olhar para o teu rosto sereno. Não podia deixar-te partir. Não queria que te levassem sem que tivesse temp

eu sei...

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Deito-me na tua face nos parâmetros do abandono na metamorfose suada da vigília amargurada das noites sem sono. Mergulho no teu olhar em lágrimas que se ondulam na órbita descrente em pedras sulcadas por lágrimas que pulam. Envolvo-te nos meus braços teu corpo pregado em mim cruz de carne sangue que escorre numa pele de marfim. És rosa acre, de espinhos tecidos na tua pele teu olhar de lua desfeita numa face quase perfeita esculpida a cinzel. És caminho já sulcado onde embalo meus pés feridos pedra após pedra te engano te renuncio, te infamo pelos males alheios, sofridos. Eu sei que o teu rosto é ficção jubilo reposto em mar no céu que abraço em nuvens de cansaço no teu secreto olhar. Eu sei que o silêncio é amargura É vertigem perpétua de te alcançar E descendo pelos teus lábios Beijos puros, homens sábios num decrépito penar... eu sei, que já nada serei porque não sendo a ilusão de ser quem fui ou talvez não, petrifiquei todo o meu ser ao alcance da tua mão. Desmembrei-me á mercê de

Prenúncio de dor

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Gosto das palavras que me alcançam No prenuncio desse tempo que já morreu. Gosto dos sinais por onde balançam As metamorfoses poéticas do meu eu… Gosto das trindades sobre os céus Em vertigens abertas a quem pereceu Gosto das candeias acesas cobertas de véus Limpando as lágrimas de um choro ateu. Gosto das indulgências que me pregam Ardendo numa febre pouca Nesta cruz infame do destino. Gostos da dor das chagas que sangram Dos insultos da tua doce boca Que me enlouquecem o tino.

Ausência de Deus

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Quantas vestes te rasgaram esses pobres Os famintos de tudo, até de pão? Quantos homens se cruzaram no teu corpo Tão cheios de tudo, mas vazios de oração? Quantas dores absorveu a tua alma Nas lágrimas que escorrem sem cessar Por entre os olhos escondidos do mundo Tão sábios de tudo, mas não sabendo rezar? Quantas almas vaguearam a teu lado Na insignificância fatal do abandono? Quantas pessoas se julgam perdidas Em esperanças adormecidas, sem começar de novo? Quantos homens acreditam em Deus Nos desígnios Seus, ou na sua Trindade? Quantas almas esqueceram o perdão Da vida eterna, da Salvação, da alegria e da liberdade?

Mãe

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Em teu rosto nascem aves flamejantes ventos vagos de um claro sentir teu olhar, minha Mãe semeia estrelas no manto da noite calma, a florir. Em teu corpo fértil me aninho como pétala de flor a amanhecer teu corpo, minha Mãe é ouro fino fénix mitológica a renascer. Em tuas mãos são doces os caminhos os rastos de luz que desenham teu ser tua voz, minha Mãe são imaculados hinos pedaços de mel num favo a escorrer. Teu ser de pétalas vestido derramas sobre mim teu mágico viver queria ser para sempre o teu menino deitar-me no teu colo e adormecer.