Amor procura-se--




Procuro-te por entre as gotas ácidas de uma chuva de rostos humanos, à mercê da própria dor, da própria incredulidade de ti. Rastejas por entre os poros desta pele que se arrepia em contratempos em metamorfoses esporádicas de mais um dia mau. Procuro-te por entre os becos das avenidas, nas pedras incipientes da calçada fria rafada por pés mundanos. És apenas o pensamento esquecido e empoeirado pendurado nas arestas da minha alma. Quero-te numa fome desenfreada e animal, que me leva a agir por instintos grotescos polvilhados pelo teu doce sabor fantasiado em meu espírito. Onde te escondes dos olhares que te ignoram, que não se conjuram a pensar na tua fugaz existência?
És vulgar mas no entanto procuro-te… procuro-te…. Se não for nas horas mortas da minha alma, nos lábios agitados de silêncio, nos corpos balançando sensualmente no vento das atrocidades infantis deste meu querer….responde-me voz alheia e imperceptível… onde te escondes?
No beijo roubado que vai de boca em boca, sabendo a fel ou a mar?
Nas faces dos velhos que imploram a carícia de uma mão face á rugosidade da pele?
No olhar das crianças pedindo gotas de colo num choro tão indelével como a sua meiga voz?
Na fome de um qualquer mendigo que anseia um naco de pão?
Na face da solidão que se roça pelos poros de um corpo incapacitado á nascença?
No coração que pulsa á falsa fé o sentimento, a seiva humana que nos dá a visão do próximo?
Onde te escondes, Amor?
Nos rios de lava, que se precipitam sobre mim, nas pedras criadas ao contacto das lágrimas? Na boca que grita de dor ou de prazer fechada por murmúrios impensados pela vergonha social?
Procuro-te divertida no contorno das mãos, em dedos entrelaçados ao cair da noite, em horas fugazes. Em olhares que me despem na despedida de um desejo despido na rua. Em silêncios que gritam segredos profundos de almas dilaceradas num último adeus. Procuro-te invejosa de te aprisionar num sorriso efémero sem razão aparente. Procuro-te porque o teu sentido refaz a visão de mim em frente ao espelho. Procuro-te porque vestes o meu número em todos os sentidos, porque me iluminas a alma com fios roubados ao sol, porque me polvilhas de sonho todos os vazios, porque me iludes em ciências improvisadas roubadas ao mundo da fantasia. E no entanto tudo em ti é real, a presença, a ausência, o toque, o falar, o gesto imprevisto que me agarra no abismo de um silêncio conciso pendurado por fios na linha do meu olhar. Procuro-te porque és memória presente de um sorriso que o tempo não se atreve a apagar. És volúpia incessante, palavra distante, voo, luar.

Comentários

Unknown disse…
é muito lindo...
só espero que ele não seja como eu desempregado.

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