Serena dor...


Serena dor! Minha companheira de eternos vendavais, de invernias internas, de desilusões abissais... perdi a conta às noites, em que aprendi a saber de cor o afago dos teus dedos a tamborilar na pele, quando o véu das insónias me empurra contra o negro infinito. E não sei mais quantas noites vou debruçar-me no teu regaço em almofadas de lágrimas e cansaços e ausências minhas. Sou feita de tantos trapos, de tantos enganos, de tantos pedaços... E cansei-me de ser o que sempre por genuinidade fui... Cansei-me de lutar contra a corrente, quando o sal das lágrimas me inunda o peito e me corrói a alma à mercê de julgamentos que não me preenchem. Aceito melhor a solidão do que a companhia interesseira que me suga a luz que ainda me resta no olhar, entre as raízes e o esvoaçar das asas, que reprimi, na incapacidade da ausência. Será que valeu a pena anular-me, entregue aos desassossegos constantes, às preocupações alheias, quando me sinto na transparência do vidro... Enxergam através de mim como se não me notassem, como se nada existisse entre o deixar de ser útil e o ser dispensável. Sou o resto zero de uma equação que nunca chegou a ser ponderada. A presença de uma ausência que se queria notada... E hoje abraça-me esta dor serena que me decompõe, entre a realidade e as forjadas ilusões... Pensei ser tanto e espraiei-me em nadas... Fui o excesso quando pensei ser o bem necessário... E se for para viver na solidão da ingratidão dos dias... Prefiro a morte... Fria, bravia, incontornável, mas que não falha e não engana... Ferida no campo de batalha, de uma tão nefasta guerra, morro entre tantos nadas, resta a campa rasa, feita só de terra...

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