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A mostrar mensagens de julho, 2017

Morreste-me

Morreste-me e não fui capaz de verter uma única lágrima. Talvez porque a traição mata em nós qualquer réstia de sentimento. Foi um homicídio negligente e premeditado. Foste a desilusão gigante que me fez pegar na arma e assassinar o corvo que trazia no peito em embalos de um amor que de cúmplice nada teve. Não te guardo as penas, nem o rosto, ou o nome. Quero o vazio do tempo que desperdicei contigo nas mentiras que a tua voz apregoava. Como é justo o karma face à maldade das pessoas. Aqui se paga cada gota de sangue inocente que derramamos nos outros. Aqui se paga o peso da consciência do que perdemos. E espero que a memória dos momentos comigo te injecte e queime em saudade como o inferno em que me fizeste arder.

Desvontade

Vestimos o silêncio na pele que nos rasgam do corpo. Na carícia que qual peso morto nos faz sangrar ao sentimento. Recoso o coração ao tempo e deixo a náusea passear-se na alma, à vertigem que acalma a mente. Não há regresso ao passado. Tudo o que não foi vivido, foi porque o tempo foi da desvontade aliado, e não quis partilhar o momento. Tudo se desmorona ao toque gélido da mão que nos ilude na cegueira de uma entrega sem retorno. A terra não engole o mar, porque há nele a revolta do desconforto. O triunfo de uma vontade que se impõe, em tempestades. Quando por más vontades nos agrilhoam a um destino que não pretendem viver. Existe um fosso entre nós. Uma selva incontrolável, suicida. A derrocada que entre nós tornou a vida, não partilhada, mas repartida. E se à rebeldia do sentimento que trago no peito, terei que ser desfeito, que por hoje o seja, mas que tenha de vez a coragem da despedida. Quem ama não esquece, persiste, não abandona, insiste, para que a caminhada seja em passos ig

Vértice do esquecimento

Cheguei ao vértice da nossa desistência. Não somos reais, somos a ilusão em pura decadência. Os antípodas de um sentimento já em si descrente. A marginalidade de um poema decadente. O corpo retorce-se na ausência que do toque se evade. A alma cospe em cristais as lágrimas que os olhos não albergam mais e se derramam. A calma que a tua alma transmite ausentou-se de mim desde algum tempo, resta,a inquietação, a dúvida, o descontentamento. Será a vida um jogo de vitrais. O prometer que se volta e não regressar mais? Cansei-me de expectativas, de mendigar amor, entre as horas de madrugadas perdidas e a resposta pronta da solidão que me acompanha. A estrada fria que o pé estranha, quando a vontade é partir. Mas este amor corroi-me as estranhas, em nefasta dor de vertigens plenas. Não deixo de te amar, levo na pele tatuado o teu toque, o sabor do beijo, mas o amor não sobrevive de incertezas ou lembranças, nem de promessas ou esperanças, no amor ou se investe ou se esquece. E eu tenho sido a

Partida

Um dia quando não houver mais rostos a deambular sobre a minha pele entregarei o corpo à morte. Não me é possível viver no desalinho depressivo desta cruel dependência do mundo...Não é possivel evitar que a pele se cale ao afrontamento dos sentidos. Não é possivel apagar de mim o toque descartável da tua mão. Fomos um fogo fátuo que se desprendeu por entre os dedos, na vertigem da tua certeza e dos meus m edos, no descontrolo efémero de uma vã loucura. Nao acredito na s alvação da morte e não pretendo continuar a minha fuga. Nada é mais cruel que rejeitar sentir pela incerteza do sentimento. E nada é mais lo uco que viver uma fuga passageira entre o oráculo do tempo e os p ingos de uma felicidade irrisória que sorvo dos teus lábios....já q uase sei de cor o corpo onde me aninho nas noites que semeio no meu le ito. Mas nada é eterno e mesmo que seja terna a desenvoltura poética do teu abraço que nos funde num só eu...Não há silêncio que não me af aste de ti aos poucos, no conform

Escolhas...

Chega uma hora em que temos de mudar...Não porque já não cabemos na pele que vestimos mas porque a vida nos faz perceber que há coisas que deixam de fazer sentido. E que está na hora de dizer um basta! Cansei-me de engolir sapos e arcar com culpas que não foram minhas. Cansei-me de me lembrar de quem sempre me esqueceu. Cansei-me de ser julgada com total desconhecimento de causa...E hoje continuo o que sempre fui... Verdadeira. Mas já não me veste a agilidade com que  me prontificava quando o mundo alheio caia. Deixei de estender a mão a quem me morde os braços. Deixei de estar onde por obrigação exigiam a minha presença. Deixei de me importar...De querer saber...A frontalidade mantém-se mas hoje reveste-se de silêncio, porque chega uma altura em que é mais importante estar em paz do que ter razão...este é definitivamente o meu mundo, aquele onde hoje exerço total abandono de tudo pelo meu bem-estar. Veste-me hoje um egoismo que nunca tive... Dei tudo de mim, sempre de alma e coração,

Despedida

Despeço-me dos comuns mortais da melodia inaudível à fragância de ti, ao prazer mundano exacerbado em metamorfoses de prata sobre a faca na minha pele, descrevo o adeus o traço curvilineo da garganta, onde se cruzam irónicas a paixão e a vida, sepulta-me no teu peito, num adormecimento profundo feito leito, e aos poucos peço-te que te vás, sem lágrimas, esquecendo-te de mim......

Vazio

Sou a transparência de uma alma que já não tem corpo onde habitar. O espaço sugou-a para uma dimensão intermédia, onde não há tempo nem lugar. Demoraste tanto tempo a socorrer-me, que morri. Morri nos picos entrelaçados do tempo, onde em raros momentos, a carência te lembrava de mim.

Sem tempo....

Sinto-me baralhada como a areia pelo vento Tudo o que me rodeia tem sempre um tempo Menos tempo para mim. Sou a transparência mais perfeita no teu peito. Aquela que só se trás por perto em breves memórias, Que a ausência acende em ti. Não pretendo mendigar o tempo, atenção, ou alento, A vida por vezes leva o sentimento, Impedindo-nos de ficar. E eu serei sempre brisa, que o vento sopra e o mar atiça, Sempre à tona de àgua como a cortiça Parto para onde a alma me levar....

Porque...

Porque caiem os dias Na tremenda hipocrisia Das palavras. Se já não há lugar Onde a alma ficar E o resto são mágoas. Porque me amarra este porto Se a nova pele sobre o corpo É o prenúncio da liberdade Porque me despeço eu Se o sorriso ainda é teu E a lágrima é saudade...

In Memoriam...

Há cicatrizes que nunca deixam de doer... Minha doce Avó, faz anos que o teu silêncio inundou de vez a minha vida. Anos que não regressam por muito que a saudade bata à porta do meu peito em alheias soalhadas. Respinga em mim ainda a última gota do orvalho que te viu partir naquele fim de tarde, de um sábado dorido e gravado a ferros no meu peito. O enjoo de uma baforada de gente, meia zonza, proliferando palavras de desgaste para este meu cérebro adormecido para a dura realidade que me imprimia em segredo a imagem da tua ausência. Quantas vezes desejei dizer-te tudo o que tinha amordaçado no meu peito desde que partiste. A dor de uma saudade imposta pela solidão de ti. Hoje consigo finalmente dar voz a este longo silêncio. Dizer-te tudo o que não tive tempo de te dizer. Eras a alegria dos campos de Outono, onde as folhas enfeitavam coloridas o laço do teu avental. Eras o pilar perfeito onde edificava o meu ser quando o vento das intempéries da vida depositava nos meus olhos as lágrim

Amor a prestações entre segredos e raras madrugadas

Amo-te a prestações, entre o segredo que só partilhamos os dois entre o brilho quente da lua em raras madrugadas. Mas o amor, por vezes, é uma submersão adversa que nos empurra contra a corrente até nos faltar o ar. Não há sossego no desassossego premente de cada golfada, sugada à pressa, de uma réstia de fé num misto de impaciência. Mas será o amor elevado à extrema potência, um percalço inacabado e de conflitos internos, em constante sobrevivência? Ou será apenas a vivência que em reflexos de uma magia densa compensamos no outro? O tempo é um carrasco apressado e indigente. O tempo de um tempo, sem tempo, que a tempo, não nos diz nada. O tempo que nos desacerta, nos ponteiros apressados, e nos faz passar de raspão pela vida dos outros. O tempo soberano e intransigente que nos comanda, num passo que de incerto erra a estrada. Alguma vez o tempo me voltará a consentir cruzar meus passos contigo? O mesmo céu e o mesmo chão, o fogo da terra sob o bafo frio da extinta solidão? Não, na p

Despedida

Somos dois estranhos. A cumplicidade que parecia ter anos, ruiu. É preciso dar tempo a quem já não tem tempo para partilhar connosco. É a face fria da desistência a roçar-nos o rosto. E o peso dos pés que teimosamente se enterram no chão, ganhando raízes, numa terra que deixou de ser fértil. Já não há espaço no meu peito para tanta saudade. Nem para adormecer o desejo, que o tempo fez vontade. Já não há palavras empoleiradas no olhar, nem o ímpeto de perpetuar o abraço que ficou por dar. Não quero apenas o espaço ocupado no leito. O suor do amor, que se faz desfeito, entre a chuva que do rosto, embaça o peito, em mais uma despedida. Quero o companheirismo aceso, que um dia ficou desperto, e hoje jaz no silêncio de nós. Sei que o sentimento me prende, e que a memória me atraiçoa, a tantas lembranças em que o sorriso se abriu contigo. Mas não me posso  agarrar a promessas que serei incapaz de cumprir. A rua ficou deserta e sei de ti pela conversa que vozes alheias apregoam de ti. Não há

Reflexos

Sou só... E os meus monólogos Ecoam nas paredes da tua alma Como se me mareassem os sentidos à loucura Quando me embriago de ti. Trago a alma encurralada entre ilusões, Uma diz-me que não ame nada A outra que me desprenda de paixões. E fico entre o silêncio que me devora E a fuga paralela de uma mórbida hora O enlace enamorado em galáxias de mil sóis. A vida é um devaneio entre sombras Onde nos misturamos os dois.

Persistência

São memórias de uma longa caminhada. Duas almas de fogo que se cruzam de novo pelo espaço sideral. O reconhecimento feito pelo corpo em devaneio feromonal. E a redescoberta do traço que sobre a pele indelével volta a ser visível ao arrepio que o desejo Injecta em cadência normal. Perdido e louco no corpo um do outro em gestação experimental. O tempo é precioso, horas em que repouso minha alma em teu coração. E tudo é a picardia das pregas do tempo na vida que nos afasta lentamente. Mas queima mais o sentimento que a distância, e volta ao abraço a esperança, que em nós ateia o fogo.

Dois em um....

Atravessa os umbrais da minha alma e recolhe em estrelas o dia. Há sombras desenhadas na pele à luz entrecortada da rua, pelas frestas da janela que nos invade, na tenacidade que arde na selva nua. Hoje arrebatas-me o peito na fusão perfeita que de dois nos fazem um. A cadência do ritmo do coração sentido nas arritmias da pele. O querer ir, entre compassos apressados, sem desaguar em lugar nenhum. A loucura de te amar, a alma aberta de par em par, o coração a girar, entre pontas de um lugar comum.

Sussurra-me...

Sussurra-me entre silêncios que mão são meus Entre vultos que povoam minhas parcas fantasias Entre braços que se moldam aos cansaços Na ausência dos abraços Com que enfeitas os meus dias. Sussurra-me em devaneios de medos teus Entre ecos que em mim se agitam Entre a negação e a derrota A vontade de quem se esgota Nos murmúrios que na pele gravitam... Cortei amarras e apaguei os trilhos Deixei no peito crescer uma asa Do passado apenas guardo o caminho Que me leva de regresso a casa.