Amor a prestações entre segredos e raras madrugadas



Amo-te a prestações, entre o segredo que só partilhamos os dois entre o brilho quente da lua em raras madrugadas. Mas o amor, por vezes, é uma submersão adversa que nos empurra contra a corrente até nos faltar o ar. Não há sossego no desassossego premente de cada golfada, sugada à pressa, de uma réstia de fé num misto de impaciência. Mas será o amor elevado à extrema potência, um percalço inacabado e de conflitos internos, em constante sobrevivência? Ou será apenas a vivência que em reflexos de uma magia densa compensamos no outro? O tempo é um carrasco apressado e indigente. O tempo de um tempo, sem tempo, que a tempo, não nos diz nada. O tempo que nos desacerta, nos ponteiros apressados, e nos faz passar de raspão pela vida dos outros. O tempo soberano e intransigente que nos comanda, num passo que de incerto erra a estrada. Alguma vez o tempo me voltará a consentir cruzar meus passos contigo? O mesmo céu e o mesmo chão, o fogo da terra sob o bafo frio da extinta solidão? Não, na pressa apressada de quem olha sem dizer nada e segue caminho. Não, na carícia que de ausências já não se aninha na pele. Nem no beijo que de fugida, nem chegou a tocar o rosto, ou a aflorar os lábios de um já gasto sorriso. Sabe-me o peito a saudade e a alma a silêncio. Já não há muito para contrariar nas ausências que no desnorte do tempo se fizeram distância. E o que fazer com o sentimento que transborda do peito e me inunda ao calafrio de mais uma noite deposta entre as paredes do quarto e a solidão? O sufrágio irrefletido de uma entrega que de gratuita se pagou caro. No pranto que se desenha na face, à queda incalculada da lágrima já fria, no debulhar da noite. Talvez não te amasse se não tivesses aberto em mim a página certa de um capítulo escrito a uma mão e dois corações, tão nosso e de nós dois, na cumplicidade das almas antigas, que no reencontro terreno, regressam às conjunções espirituais. Foi o caso de um acaso escrito entre estrelas em prescrições celestiais. Eramos contrastes acesos e subversivos que se completavam, entre notas de uma sintonia que nos embalava, a junção perfeita entre os dedos e as cordas de um velho violino, que transmutava em sonhos os espinhos que trazíamos cravados no peito, quando o destino nos encontrou. Fomos mar e lua. Eu navegava em cada onda tua, e tu no brilho que escrevias no meu olhar. Fomos sol e vento. A pele que queimava, o desejo em sentimento. A brisa que nos renovava. E hoje tudo se transforma em quase nada. Perdeu-se o tempo, as palavras, a rota de colisão da alma. Perderam-se entre nós as entrelinhas e anunciaram-se despedidas, na pele outrora de carinho perfumada. Guardo em mim o sentimento, a felicidade dos momentos, em que fomos o complemento de tudo, berma e estrada. Margem e Rio. Um porto de abrigo gentio em plena madrugada.

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