Não sou de ninguém

Não sou de ninguém. Sou de deformados sóis e de incertos horizontes. A lágrima fácil de riso doce. A lua cravada de estrelas e a peste negra que cospe fogo. Sou o caminho que percorro sozinha, em todos os passos que errei. Vivendo nos empurrões da vida, encontrada e tanta vez perdida, nos devaneios que só eu sei. Dispo de mim a pele, entrego o corpo, o peso de um desejo morto à alma libertina. Sou mais de asas do que de correntes. Prefiro as incongruências presentes do que passados que me fizeram ferida. Não quero laços que ameaçam ser nós. Quero o vento agreste no cabelo solto. A prometida viagem de lês a lês, o ardiloso tumulto. Sou mais de silêncios do que de ruídos, sou de solidões e tempos perdidos. Sou o receptáculo das desilusões, umas foram meras perdições, outras distrações prepositadas, de corações, que sendo ocos já não guardam nada. Sou o abrigo tardio desta caminhada, sou o biblot que se coloca no Hall de entrada para ser admirado, longe do toque. Parti a porcelana resta o reboco, ficou o grito louco,  de quem a seu jeito me impedia de viver. Quero a areia da praia rente ao corpo. O brilho adocicado da maresia na pele. Quero o fogo que o desejo assaz desperta. A loucura que se injecta no adormecimento da razão. Quero viver sem culpa o beijo que a minha alma desperta, os eléctrodos que se despontam ao toque na pele. Quero esquecer que na vida temos que ser apenas conto em papel, porque existe uma ideia errada de liberdade. Quem gosta cria asas,  cria espaços, para que a pessoa queira livremente voltar.

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