Raios Parta a Miúda (homenagem à Vareira Portuense)


Desce os degraus
Da escada de pau
Da casa já velha
Sai porta fora
Madrugada que acorda
O cais da ribeira.
E o seu destino
Herdado no bingo
Da sorte da mãe
Desde rapariga
Vendendo petinga
Não lembra a ninguém.
Quis correr mundo
Um sonho profundo
Que não quis acordar
Correndo os carris
Pensou ser Paris
Que a ia abraçar
O eléctrico apinhado
Voltou com cuidado
Ao mesmo lugar
E ela entendeu
Que o destino a devolveu
Onde tinha de estar.

Seu corpo é guerra
Sangue na guelra
Brilho no olhar
Raios parta a miúda
Sardinha graúda
Às voltas no mar

Voltou à ribeira
Mulher aventureira
Coração partido
Pediu a S. João
Sua intercessão
Para arranjar um marido.
Arranjou namorado
Mas o pobre coitado
Morava em pensão
Mal tinha dinheiro
Era um triste foleiro
De profissão.
E a mãe se os vê
Os dois ao pé
Rompe em gritaria
E ela envergonhada
Some-se em nada
Tal é arrelia.
Se o desejo a segue
Não há quem a leve
A soltar um ai
E a mãe zangada
Diz que o descarada
Herdou-o do pai.

Seu corpo é guerra
Sangue na guelra
Brilho no olhar
Raios parta a miúda
Sardinha graúda
Às voltas no mar.

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