Partida

Um dia quando não houver mais rostos a deambular sobre a minha pele
entregarei o corpo à morte. Não me é possível viver no desalinho
depressivo desta cruel dependência do mundo...Não é possivel evitar
que a pele se cale ao afrontamento dos sentidos. Não é possivel apagar
de mim o toque descartável da tua mão. Fomos um fogo fátuo que se
desprendeu por entre os dedos, na vertigem da tua certeza e dos meus medos, no descontrolo efémero de uma vã loucura. Nao acredito na salvação da morte e não pretendo continuar a minha fuga. Nada é mais
cruel que rejeitar sentir pela incerteza do sentimento. E nada é mais louco que viver uma fuga passageira entre o oráculo do tempo e os pingos de uma felicidade irrisória que sorvo dos teus lábios....já quase sei de cor o corpo onde me aninho nas noites que semeio no meu leito. Mas nada é eterno e mesmo que seja terna a desenvoltura poética
do teu abraço que nos funde num só eu...Não há silêncio que não me afaste de ti aos poucos, no conformismo corrosivo e louco de que nunca serás meu....és uma página que se avizinha o fim onde erro o pensamento nas palavras  de um livro que se arrasta no vento de uma prepositada solidão...hoje encerrei o capítulo deste insensato e doce momento, guardo o teu corpo no meu como químico fiel a cada toque, a cada beijo, e gravo a cinzel no peito a ardência do desejo...entre as
lágrimas da saudade que não ousei dividir, resta-me a palavra medonha do meu desassossego, o adeus de quem decidiu partir...
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